Fica

Fica

            – Fica – suplicou ele semicerrando seus olhos e pressionando seus lábios contra o meu pescoço.         

            – Não posso mais – respondi sem rodeios e, nesse instante, pude sentir toda a força de seu amor com a pressão de seus dedos em minha mão. Um amor que quebraria meus ossos se preciso fosse; um amor que não se intimidaria com nenhum argumento, com nenhum apelo. Ele não me agrediu como de costume. Envolveu-me em seus braços e me amou ternamente, como nunca antes; como se o mundo não tivesse pressa, como se o tempo fosse eterno. Dedicou-se ao meu prazer como jamais havia feito. Ele não podia admitir a possibilidade de me perder.

                – Fica – suplicou novamente entre um êxtase e outro, e eu, entre suspiros de prazer, não conseguia responder. Deixei-me levar pelo momento infinito no que ele chamava de amor e, naquela hora, éramos mais que dois corpos nus se entrelaçando, éramos um só, unidos pelo desejo carnal. Refestelei-me em seu suor e tremi como se múltiplos choques estivessem atingindo meu corpo. Não podia pensar; não podia recusar. Esquecera naquele instante toda a violência, todo o amargor da vida ao seu lado.

            E, ainda sem fôlego e quase desfalecida de prazer, senti seus dedos me marcarem a pele e escutei, pela última vez:

            – Fica

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Sentindo você assim

Sentindo você assim

Tão profundamente em mim

Ou você se foi

Ou fui eu que me perdi

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A Casa

A casa

Num terreno de terras secas

Uma casa foi construída

Abrigou o início de vidas

Viu findar histórias vividas

Testemunhou, incontáveis vezes,

 Folhas caírem e o gelo chegar

 Flores nascerem e o calor se anunciar

Foi reformada ao longo dos anos

As paredes antes caiadas

Ganharam tintas arrojadas

Assistiu amores nascendo

Viu esfriar paixões de momento

Abrigou gerações de crisálidas

E assistiu borboletas voarem

Teve vida correndo em seus quartos

Acolheu alguns últimos suspiros

Teve dias de glória em festas

E momentos de recolhimento e calma

Aguentou as surpresas da vida

Sempre forte e imponente em sua fachada

Em seu interior o calor da acolhida

Nunca negando um prato de comida

Hoje fica ali aguardando

A visita de um parente distante

Uma luz sempre acesa na entrada

A janela como um olhar insistente

Esperando a vida a ela retornar

Para lhe chamar novamente de lar.

Ana Paula Toledo Aygadoux

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O Nome

O Nome

(coautoria Iunes Chamun)

Coisa tão singela

Carrega uma história

Que pesa ou revela

Setimentos guardados

De ancestrais amados

Os nomes de família tão importantes

Carregamos pela vida

A honra de gerações distantes

Um pouco de cada

Nossa gente aguerrida

Nome e sobrenome

Juntam-se numa mistura

Compondo nossa figura

carregamos juntos; mulheres e homens

Na nossa simples assinatura

Coautoria de Iunes Chamun (@chamunjunior)

e Ana Paula Toledo Aygadoux (@anapaulatoledoaygadoux)

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Meu marido, sua amante e eu

Meu marido, sua amante e eu.

                        Não adianta querer esconder, muito menos me revoltar, o jeito que encontrei para viver bem com ele foi aceitar.

                        Ela tem qualidades que eu não tenho e o acolhe em momentos em que estou sem paciência, faz suas vontades e vai aonde ele quer, não tem vontade própria, vive os desejos e sonhos dele, aceita passivamente, coisa que não consigo fazer. É sempre carinhosa, raramente se revolta e, quando o faz, basta algum dinheiro e ela logo volta a sorrir. Ninguém me compra. Quando acho que estou certa e ele errado, não bastam presentes, só muita conversa, carinho e amor resolvem. Nem sempre os homens estão dispostos a isso, é mais fácil abrir a carteira, exige menos esforço. Talvez ela seja mais inteligente.


                        Ele é feliz com ela e como o amo infinitamente acabo ficando feliz com esta relação. Por um lado, porque ela supre os momentos em que não posso lhe dar atenção, seja pelo trabalho, pelo cuidado com as crianças ou porque desejo um momento só para mim e, por outro lado, porque ela se submete às vontades dele e faz coisas que eu jamais faria, não conseguiria fazer. O pior de tudo, ou melhor, não sei, ela me aceita, sem exigir nada dele. Aceita até mesmo as crianças e as leva junto a alguns passeios sem jamais reclamar acolhendo-os em seus braços carinhosamente, como se fosse a própria mãe, mantendo-os sempre em segurança. Eu aceito porque eles parecem felizes com ela também.

                        As feministas que me perdoem, mas meu casamento ficou melhor depois que ela entrou em nossas vidas, pois ocupa o tempo ocioso dele deixando-o sempre feliz. Chego à conclusão de que todo homem necessita de uma amante como ela.

                        Agora ele trocou de amante, a antiga era tão boa, mas para ele a outra já estava velha, cheia de manias, exigente, direitos que somente a esposa possui. Somente a esposa pode ficar velha, a amante tem que ser sempre mocinha, assim não tem manias e aceita o que ele quiser impor. Achou uma mais nova, no entanto, entre uma e outra, passou por vários braços, nervoso, inquieto, insatisfeito. Agora está novamente feliz. Eu gostei dela, ela também me aceita sem reclamar. É mais vistosa, com curvas precisas por onde ele desliza suas mãos sem receio de encontrar imperfeições, é quieta, se submete a ele, lhe devolve a juventude, fico feliz por eles e até sinto certo carinho por ela, eu já sentia saudades da outra.

                        No entanto, o que ainda surpreende, é o fato dele me convidar para passearmos todos juntos. Ele me permite entrar em seu mundo, compartilhar seus segredos desde que eu a trate bem e a aceite sem reclamar e, por amor, eu acabo, também, me submetendo.

                        Normalmente em domingos ensolarados ele, vibrante e alegre me chama, pede para que eu me troque, quer me levar junto em um passeio com ela. Eu aceito, me arrumo, respiro fundo e, quando chego na porta de casa ela já está esperando lá na frente, segura e imponente, me olhando, não esboça nenhum sorriso, mas me aceita. Ele, ao seu lado, pede que eu me apresse e eu vou, procuro transparecer felicidade. Ele abre a porta para mim, eu me sento em seu banco e ela me acolhe com carinho, me sinto confortável e segura, posso entendê-lo, eu também a amo. E vamos para mais um passeio de domingo, todos nós: as crianças, meu marido, sua Land Rover e eu.

Ana Paula Toledo Aygadoux

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Cama de Casal

Cama de Casal

A cama de casal acolhe todos da família

O casal enamorado dormindo abraçado

Ou bem acordado a fazer estripulia

Aceita também o casal mal-humorado

Que se deita à distância, cada qual para o seu lado

A cama de casal aceita crianças pulando

Em seu colchão de molas,

quando os pais não estão olhando

E, quando os fantasmas da madrugada assustam os infantes,

Os acolhe com carinho em seus lençois aconchegantes

Unindo a família em laços ternos,

Dando conforto a seus habitantes

A cama de casal guarda inúmeros segredos,

Das lamúrias baixinhas aos mais tórridos desejos

E aceita, também, toda sorte de gracejos

E quando todos se vão aos compromissos diários

Ela fica sozinha com confidências a guardar

Bem quietinha e discreta no silêncio do lar

Ana Paula Toledo Aygadoux

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