Meu marido, sua amante e eu

Meu marido, sua amante e eu.

                        Não adianta querer esconder, muito menos me revoltar, o jeito que encontrei para viver bem com ele foi aceitar.

                        Ela tem qualidades que eu não tenho e o acolhe em momentos em que estou sem paciência, faz suas vontades e vai aonde ele quer, não tem vontade própria, vive os desejos e sonhos dele, aceita passivamente, coisa que não consigo fazer. É sempre carinhosa, raramente se revolta e, quando o faz, basta algum dinheiro e ela logo volta a sorrir. Ninguém me compra. Quando acho que estou certa e ele errado, não bastam presentes, só muita conversa, carinho e amor resolvem. Nem sempre os homens estão dispostos a isso, é mais fácil abrir a carteira, exige menos esforço. Talvez ela seja mais inteligente.


                        Ele é feliz com ela e como o amo infinitamente acabo ficando feliz com esta relação. Por um lado, porque ela supre os momentos em que não posso lhe dar atenção, seja pelo trabalho, pelo cuidado com as crianças ou porque desejo um momento só para mim e, por outro lado, porque ela se submete às vontades dele e faz coisas que eu jamais faria, não conseguiria fazer. O pior de tudo, ou melhor, não sei, ela me aceita, sem exigir nada dele. Aceita até mesmo as crianças e as leva junto a alguns passeios sem jamais reclamar acolhendo-os em seus braços carinhosamente, como se fosse a própria mãe, mantendo-os sempre em segurança. Eu aceito porque eles parecem felizes com ela também.

                        As feministas que me perdoem, mas meu casamento ficou melhor depois que ela entrou em nossas vidas, pois ocupa o tempo ocioso dele deixando-o sempre feliz. Chego à conclusão de que todo homem necessita de uma amante como ela.

                        Agora ele trocou de amante, a antiga era tão boa, mas para ele a outra já estava velha, cheia de manias, exigente, direitos que somente a esposa possui. Somente a esposa pode ficar velha, a amante tem que ser sempre mocinha, assim não tem manias e aceita o que ele quiser impor. Achou uma mais nova, no entanto, entre uma e outra, passou por vários braços, nervoso, inquieto, insatisfeito. Agora está novamente feliz. Eu gostei dela, ela também me aceita sem reclamar. É mais vistosa, com curvas precisas por onde ele desliza suas mãos sem receio de encontrar imperfeições, é quieta, se submete a ele, lhe devolve a juventude, fico feliz por eles e até sinto certo carinho por ela, eu já sentia saudades da outra.

                        No entanto, o que ainda surpreende, é o fato dele me convidar para passearmos todos juntos. Ele me permite entrar em seu mundo, compartilhar seus segredos desde que eu a trate bem e a aceite sem reclamar e, por amor, eu acabo, também, me submetendo.

                        Normalmente em domingos ensolarados ele, vibrante e alegre me chama, pede para que eu me troque, quer me levar junto em um passeio com ela. Eu aceito, me arrumo, respiro fundo e, quando chego na porta de casa ela já está esperando lá na frente, segura e imponente, me olhando, não esboça nenhum sorriso, mas me aceita. Ele, ao seu lado, pede que eu me apresse e eu vou, procuro transparecer felicidade. Ele abre a porta para mim, eu me sento em seu banco e ela me acolhe com carinho, me sinto confortável e segura, posso entendê-lo, eu também a amo. E vamos para mais um passeio de domingo, todos nós: as crianças, meu marido, sua Land Rover e eu.

Ana Paula Toledo Aygadoux

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